A cada segundo, o País usa, em média, 2,83 milhões de litros de água, de acordo com dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).
O setor que mais consome água no Brasil é a agricultura, pouco mais da metade, ou seja, 50,5% do volume total, se comparado com outras demandas, como o abastecimento humano com água potável e o uso na indústria, segundo o Relatório da Conjuntura de Recursos Hídricos da ANA. Isso se deve basicamente à irrigação, afirma a professora Tamara Maria Gomes, do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP em Pirassununga.
A irrigação, diz Tamara, é usada com a principal finalidade de complementar o regime de chuvas na produção agrícola. “Embora no mundo ela esteja presente somente em 20% das terras cultivadas, acaba sendo responsável por 40% das colheitas agrícolas, o que faz dessa técnica um importante instrumento para atender à demanda mundial por alimentos, principalmente para atender ao crescimento populacional estimado em 10 bilhões de pessoas até 2050.”
Essa busca por aumento na produtividade de alimentos deve levar também ao aumento das áreas irrigadas no País. “Atualmente, no Brasil, são 8,5 milhões de hectares irrigados, o que representa, simbolicamente, 1/3 do território do Estado de São Paulo”, enfatiza
Para Tamara, as estimativas revelam um grande potencial para aumentar a área irrigada no Brasil em quatro vezes, o que possibilitaria quadruplicar a produção agrícola sem expandir as áreas cultivadas. “O grande desafio é alinhar o aumento da produtividade das culturas com a disponibilidade de água frente aos eventos climáticos, principalmente o aumento da escassez hídrica em determinadas regiões brasileiras.”
Nesse cenário desafiador, para evitar comprometer a qualidade e a quantidade dos recursos hídricos, a professora enfatiza a importância de respeitar o Código das Águas e adotar tecnologias que promovam a eficiência. “No caso da agricultura irrigada, é crucial considerar questões como: solo, clima, demanda hídrica da planta, relevo e topografia do terreno, disponibilidade e qualidade da água, disponibilidade de energia, fatores que influenciarão na escolha do sistema de irrigação.”
Outro ponto crucial a ser considerado nesse contexto, segundo Tamara, é a qualificação da mão de obra, fundamental para elevar o nível tecnológico do sistema a ser utilizado. Ela também cita como fatores que contribuem para a eficiência da irrigação os métodos que aplicam água diretamente na raiz da planta, reduzindo a perda por evaporação, especialmente em regiões com ventos fortes e/ou calor intenso. Além disso, os sistemas que permitem a aplicação de fertilizantes junto com a água de irrigação, prática conhecida como fertirrigação, melhoram a absorção de nutrientes pelas plantas e, em muitos casos, reduzem o consumo de combustíveis pelos equipamentos agrícolas.
O reúso da água é uma prática bastante comum na agricultura e essa atividade também está regulamentada por legislação específica. Na área agrícola, o reúso se materializa por meio da utilização de efluentes provenientes das atividades agroindustriais, sendo a cana-de-açúcar protagonista nesse processo.
A professora Tamara explica que a vinhaça é um subproduto residual da indústria sucroalcooleira durante a produção do álcool. Em média, cada litro de etanol produzido gera cerca de 12 litros de vinhaça. No ano de 2021, no Brasil, foram produzidos 24,8 bilhões de litros de álcool, resultando em um volume considerável de águas residuais nesse setor. “Isso tem impulsionado o uso do reúso da água na agricultura e, atualmente, aproximadamente 25% das áreas irrigadas no Brasil utilizam a técnica de fertirrigação com vinhaça nas plantações de cana-de-açúcar.” Além disso, de acordo com Tamara, “as projeções de cenários futuros, agravados pelas mudanças climáticas, indicam um aumento significativo na prática do reúso da água na agricultura irrigada”.
Jornal da Usp
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