Minas Gerais deve ser o próximo destino da versão 3.0 do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Depois de uma caravana de duas semanas por seis Estados nordestinos, o petista prepara agora a estratégia política para o segundo maior colégio eleitoral do País, com visitas em setembro a Belo Horizonte e à região do Vale do Jequitinhonha. Minas é crucial para o PT porque, de 1989 para cá, todos os candidatos que venceram a disputa no Estado saíram vitoriosos na corrida pelo Palácio do Planalto — um roteiro seguido por Collor, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff, Jair Bolsonaro e pelo próprio Lula, em 2002 e 2006. Além do peso do eleitorado mineiro na definição do resultado das eleições, aliados do petista acham que é provável que o candidato da terceira via saia de lá — na bolsa de apostas do PT, cresce a avaliação de que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), deve assumir o protagonismo político de tentar romper com a polarização.
Em conversas reservadas com aliados, Lula tem dito ser o único capaz de derrotar Bolsonaro, ressaltando que não há espaço para uma terceira via. Especialistas ouvidos por VEJA discordam — e pesquisas mostram que a liderança, hoje, é dos indecisos. Em um sinal de que as dores do impeachment de Dilma Rousseff já foram cicatrizadas, o petista tem frisado que quer o MDB — outrora chamado de “golpista” — ao seu lado de 2022, passando o recado de que a cassação da ex-presidente é “coisa do passado”. A tônica do discurso em Minas deve ser parecida.
O giro nordestino, encerrado no último dia 26, marcou o primeiro tour desde que o ex-presidente recuperou os direitos políticos. O saldo foi considerado positivo pela cúpula do PT. Lula refez pontes com PSB e MDB, cujas relações se esgarçaram nos últimos cinco anos. Os partidos apoiaram o impeachment de Dilma; seu sucessor, Michel Temer, virou persona non grata para a militância petista; e Pernambuco, um dos Estados visitados, foi o cenário de uma briga fratricida pela prefeitura do Recife entre João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT) no pleito de 2020. O ex-presidente se reuniu com os principais caciques na região, vestiu o uniforme de pré-candidato e afinou o diálogo para viabilizar um consenso em torno de sua figura na eleição de 2022 — ainda que em público diga que sequer está pensando no tema.
Nas agendas públicas, o petista antecipou o tom da próxima campanha. Disse que foi alvo de perseguição judicial, reforçou os ataques à imprensa e deixou claro para interlocutores que vestiu o figurino de candidato ao Palácio do Planalto em 2022 — ainda que em público diga que está “construindo um consenso” em torno de um nome e que se for ele a comandar a “frente ampla”, vai disputar a Presidência da República. Também foi agraciado com os velhos vícios, como o bloqueio parcial de uma praia no Ceará.
Apesar da resistência de setores de MDB e PSB –em especial no Centro-Sul do país, onde o bolsonarismo ainda é forte — em apoiar o petista para presidente, o PT tenta evitar que as legendas fechem apoio a Bolsonaro ou a outro candidato. Resta pouco mais de um ano para a eleição, mas a campanha já está na rua.
Por Veja.com
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