O presidente Jair Bolsonaro já preparou os tambores para botar o bloco na rua nesta semana a fim de comemorar os 1.000 dias de seu governo. O objetivo dele é atrair todas as atenções possíveis para os feitos de sua administração, além de tentar colar a marca de um gestor que faz por meio da entrega de obras, muitas delas iniciadas em governos anteriores. Com a popularidade despencando, o mandatário acredita que este é o momento da virada para garantir a reeleição em 2022
No entanto, o presidente terá de dividir os holofotes com o Congresso, onde projetos de interesse do Palácio do Planalto fazem muito ruído, e com o Supremo Tribunal Federal (STF), que decidirá se o chefe do Executivo deverá depor, por escrito ou presencialmente, no processo em que é investigado por suposta interferência indevida na Polícia Federal. No próximo sábado, está marcada mais uma manifestação contra o governo, que deve reunir representantes da direita e da esquerda.
Bolsonaro, que vem sustentando um discurso mais brando para tentar recuperar apoio de parte da elite que o abandonou, em especial a econômica, escalou ministros e secretários para cerimônias em todas as regiões do país. Ele, pessoalmente, passará por Bahia, Alagoas, Roraima, Minas Gerais e Paraná. Contudo, por mais barulho que ele faça, terá de se conformar com o depoimento do empresário Luciano Hang, na quarta-feira, na CPI da Covid. O dono da rede de lojas Havan é acusado de financiar o gabinete paralelo que disseminou informações falsas sobre a pandemia do novo coronavírus e incentivou o tratamento precoce contra a Covid-19 usando medicamentos não reconhecidos pela ciência, como a cloroquina.
A festança dos mil dias do governo Bolsonaro só aumentará a animosidade no Congresso, segundo parlamentares. Na semana passada, o Planalto conseguiu aprovar a reforma administrativa na Comissão Especial da Câmara, mas, dificilmente, o projeto chegará ao Plenário. Foram necessárias sete versões e muitos arranjos na composição do colegiado para que a vitória saísse.
Ao mesmo tempo, a equipe econômica corre contra o tempo para aprovar, no Senado, a reforma do Imposto de Renda, e, nas duas Casas, a PEC dos Precatórios. Sem isso, não há como turbinar o Bolsa Família, rebatizado de Auxílio Brasil ? uma das principais promessas de campanha de Bolsonaro.
Era desejo de Bolsonaro aproveitar os eventos dos 1.000 dias do governo para anunciar um programa social mais robusto, que, no entender do Planalto, será vital para recuperar o apoio de parte da população mais pobre, em especial no Nordeste, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera todas as pesquisas de intenção de votos. Porém, a falta de empenho do presidente em fazer as reformas andarem e a crise política criada por ele ergueram uma série de obstáculos. Não à toa, cresceu muito a pressão para que o auxílio emergencial, que acaba no mês que vem, seja estendido até dezembro ? o que causa calafrios na equipe econômica e em integrantes do mercado financeiro.
O deputado federal Alessandro Molon (Rede-RJ) afirma que a divulgação da comemoração dos 1.000 dias de governo refletem a insegurança do presidente diante do mandato. ?O que Bolsonaro tem para comemorar no milésimo dia de seu governo? O recorde do desemprego? O da inflação? O preço do gás, da carne, da gasolina? O país está à deriva, não existe governo. São 1.000 dias de incompetência e desgoverno. Inacreditável que, no meio desse caos, Bolsonaro pense em comemoração?, critica o líder da minoria na Câmara.
O senador Izalci Lucas (PSDB-DF) avalia que a desarticulação do governo o impede de seguir com propostas emergenciais. ?Não há uma proposta concreta de reforma tributária, por exemplo. Pode ser votada a qualquer momento, mas por insistência do Senado. Falta de articulação total. A gente precisa criar alternativas para programas sociais e existem muitas outras coisas que não foram debatidas com o governo?, destaca.
Outro ponto que pode ofuscar as comemorações de Bolsonaro é a marca de 600 mil mortos em decorrência da Covid-19. O número de óbitos pela doença está em 594.443, de acordo com os dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass)