A seca extrema que assola o Amazonas traz consigo consequências severas, que atingem principalmente as comunidades ribeirinhas que vivem dos rios e a fauna, com a morte de animais aquáticos. Mas os efeitos da estiagem na Amazônia são mais amplos. Especialistas alertam que os efeitos também poderão ser sentidos em outras partes do país, em especial na distribuição de alimentos e na geração de energia elétrica.
O Rio Amazonas, um dos principais do mundo, está passando por uma baixa histórica de aproximadamente oito metros de profundidade. Isso gera consequências diretas para as comunidades que usam o rio para a pesca, como meio de transporte, e como via de distribuição de alimentos e produtos que abastecem os comércios locais.
Com as rotas fluviais cada vez mais secas, os amazonenses enfrentam dificuldades até para acessar serviços básicos, como médicos e escolas. A crise é tal que a Prefeitura de Manaus, capital do Amazonas, decidiu adiantar o fim do período letivo das escolas ribeirinhas devido à estiagem.
Causas
O período de seca na Amazônia começa historicamente em agosto, mas se acentua em outubro, quando as temperaturas ficam cada vez mais elevadas. No entanto, em 2023, a estação de estiagem está mais intensa devido a ocorrência do fenômeno climático El Niño, responsável pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico.
O El Niño ocorre em intervalos que variam entre cinco e sete anos e tem uma duração que varia de um a um ano e meio. O climatologista Francisco Eliseu Aquino, chefe do departamento de geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica a influência do fenômeno nessa estiagem extrema.
“O El Niño é caracterizado por uma anomalia na temperatura da superfície do mar. Ele modifica a circulação atmosférica na região tropical e isso significa dizer que os alívios enfraquecem e diminui a humildade do Atlântico para região amazônica. E, ainda por cima, o El Niño altera o padrão de desenvolvimento da chuva na Amazônia”, esclarece Francisco Aquino.
A seca teve forte influência do El Niño durante o inverno e a primavera deste ano, mas a situação deve se intensificar ainda mais durante dezembro e janeiro de 2024, durante o início do verão.
Consequências
O governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), decretou situação de emergência em 55 cidades afetadas pela estiagem. Dos 62 municípios amazonenses, 35 estão com um cenário de alerta, dois de atenção e dois de normalidade.
Rômulo Batista, porta-voz do Greenpeace Brasil, está em Tefé, cidade a 522 quilômetros de Manaus, e contou como a população amazonense tem tentado sobreviver em meio às dificuldades causadas pela seca.
“Já existem comunidades isoladas, algumas com necessidades em receber alimentos e outras comunidades com necessidades de água”, conta Rômulo que tem auxiliado essas populações por meio do projeto Asas da Emergência.
O porta-voz do Greenpeace acrescenta que, além das populações, os animais aquáticos sofrem com a seca dos rios. Segundo o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, foram recolhidas 125 carcaças de botos na região amazônica por causa da seca neste ano.
“O boto é um animal de topo de cadeia [alimentar], um mamífero grande, se até ele tá sofrendo se espera então que toda essa cadeia está sendo prejudicada”, destaca Rômulo.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por sua vez, informou que irá investigar as mortes dos botos no Amazonas. Os animais foram encontrados, em sua maioria, no Lago Tefé, no interior do estado
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