Na busca pela ampliação da popularidade para as eleições de 2022, governadores do Nordeste intensificaram nos últimos meses anúncios e inaugurações de obras ligadas à segurança hídrica. A ampliação do fornecimento de água é um dos maiores desejos do eleitorado da região.
Houve inaugurações de obras concluídas, vistorias ou novas promessas de entregas, como construção de adutoras e ampliação do abastecimento de água por meio das companhias estaduais responsáveis pelo setor.
“Esse é o tipo de ação preferida dos governadores porque, além do desemprego e segurança pública, a falta de água é apontada em pesquisas no Nordeste como um dos principais problemas para a população”, afirma o cientista político Adriano Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
O governador da Paraíba, João Azevêdo (Cidadania), fez périplo por cidades do interior ligado ao abastecimento de água. Esteve na última semana de novembro na cidade de Monteiro, na região do Cariri, para fazer uma vistoria na estação de tratamento do Sistema Rigideira, que faz parte do sistema de abastecimento da região.
Cerca de 900 famílias serão contempladas quando o projeto for concluído, mas o governador já indicou a possibilidade de ampliação para 1.200 famílias. Ao todo, são investidos mais de R$ 20,2 milhões na obra, que é realizada em parceria com o governo federal.
Apesar de o número ser aparentemente pequeno em relação ao eleitorado da Paraíba, a medida pode se converter em ativo eleitoral, já que, além de populares, a ampliação poderá beneficiar comércios locais.
O cientista político Adriano Oliveira afirma que é a inauguração efetiva de obras ligadas aos recursos hídricos o que mais rende dividendos eleitorais. “Anúncios de obras podem trazer retorno eleitoral, mas o que vai garantir esse retorno é a entrega da obra, ou seja, a chegada da água na torneira. Não adianta apenas anunciar, porque isso gera uma expectativa, e pode trazer um retorno eleitoral, mas não é uma garantia”, diz.
Em paralelo, o governador da Paraíba aproveitou para firmar posicionamento em defesa da segurança hídrica. Recentemente, após visita ao ministério do Desenvolvimento Regional, o gestor cobrou a implantação de uma adutora para levar água ao brejo paraibano, região com mais de 115 mil habitantes.
João Azevêdo vai tentar a reeleição em 2022 e quer fazer um contraponto ao governo federal, chefiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), com alta rejeição no Nordeste.
Querendo eleger o sucessor, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), entregou em novembro, na cidade de Ubaíra, uma obra de captação alternativa para o sistema de abastecimento de água da cidade e de municípios vizinhos.
Durante as inaugurações, é comum o governador e seus aliados fazerem menções ao senador Jaques Wagner (PT-BA), antecessor de Rui no governo da Bahia e que é pré-candidato ao posto em 2022.
A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), que vai tentar a reeleição em 2022, lançou no final de outubro um plano estadual para atenuar os efeitos da seca. No evento, foram anunciados como prioridade a instalação e perfuração de poços, fornecimento de benefício emergencial para os mais afetados e ampliação do abastecimento.
O estado é um dos mais afetados pela seca, com mais de 95 cidades em situação grave, de acordo com dados de novembro do Monitor das Secas, levantamento coordenado pela Agência Nacional das Águas.
Aliados da governadora Fátima Bezerra têm usado anúncios para fazer críticas ao governo federal, impulsionados por uma razão peculiar. Isso porque o ministro do Desenvolvimento Regional é o potiguar Rogério Marinho, que deverá disputar o Senado nas eleições de 2022 no palanque de oposição ao PT do Rio Grande do Norte.
Marinho se apresenta como o responsável por levar a água da transposição do Rio São Francisco ao interior do Rio Grande do Norte. Ele deverá usar a entrega da expansão para o território potiguar durante a propaganda eleitoral.
No Maranhão, o governador Flávio Dino (PSB) fez a entrega de abastecimento de água de Vargem Grande, uma das maiores cidades do estado. A medida beneficiará cerca de 40 mil pessoas, segundo estimativa do governo estadual. Um dos maiores desafetos do presidente Jair Bolsonaro, Dino é pré-candidato ao Senado Federal.
A situação não é diferente para o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), também cotado para a disputa do Senado. O petista posou para fotos segurando mangueira com água enquanto anunciava um pacote de medidas para fortalecer o abastecimento em Aquiraz, na região metropolitana de Fortaleza.
Apesar de estar próxima à capital cearense, a cidade de mais de 80 mil habitantes recebe intervenções para fortalecer o abastecimento de água. A presença do governador em anúncios similares em outras cidades da Grande Fortaleza deve se intensificar nos próximos meses, segundo interlocutores.
Em Pernambuco, o governador Paulo Câmara (PSB), que almeja eleger um sucessor do mesmo partido, já percorreu todas as regiões do estado desde setembro. Os maiores focos de obras ligadas ao abastecimento de água estão no sertão e no agreste, região mais atingida pela seca no estado.
A medida faz parte de uma estratégia para se contrapor ao grupo político do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do governo Bolsonaro no Senado Federal até meados de dezembro. Na eleição de 2014, quando se elegeu pelo PSB, um dos slogans de campanha de FBC, como é conhecido em âmbito local, era “o senador das águas”.
Bezerra Coelho usava como discurso as realizações durante o período em que chefiou o Ministério da Integração Nacional no primeiro governo de Dilma Rousseff (PT). Ele é o principal articulador político da candidatura do filho, Miguel Coelho, prefeito de Petrolina, a governador.
No dia 23 de novembro, o governador Paulo Câmara teve uma reunião com representantes do Banco Mundial para articular a captação de verbas para recursos hídricos em áreas rurais do estado.
O governo de Pernambuco também melhorou a capacidade para aquisição de empréstimos. Aliados de Paulo Câmara relatam que recursos serão direcionados para a mitigação da estiagem, sobretudo no sertão, para se opor ao grupo dos Coelhos
Folha de S.Paulo
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