Petrolina e Belém de São Francisco, no Sertão de Pernambuco, estão entre as cidades do Brasil onde foi identificado, pela primeira vez, a presença de clima árido no Brasil. No último mês, cientistas compartilharam a preocupante descoberta da tendência de desertificação no norte da Bahia; contudo, não havia sido divulgada que na área também estava inscrita uma pequena extensão de terra na fronteira com o Estado.
O diagnóstico do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) utilizou a metodologia da convenção de desertificação das Organização das Nações Unidas (ONU), internacionalmente reconhecida. Para chegar ao resultado, foi analisada a média de precipitação e da evaporação potencial da região durante 30 anos, entre 1990 e 2020.
Inicialmente, os pesquisadores haviam encontrado aridez nos municípios de Abaré, Chorrochó e Macururé, além de trechos de Curaçá, Juazeiro e Rodelas, na Bahia. Mas ao enviarem os dados para o Ministério do Meio Ambiente (MMA), este constatou que Pernambuco também se enquadra no traçado.
Segundo os cientistas, esse estado atmosférico inédito no país foi causado pelo aquecimento global. “O aumento de temperatura aumenta a demanda de evaporação da atmosfera e faz com que regiões fiquem mais áridas”, explicou Javier Tomasella, um dos pesquisadores responsáveis pela descoberta.
“Não é o fim do mundo, mas precisamos nos preparar, porque a tendência é sempre agir quando a tragédia aconteceu. Precisamos nos antecipar e nos planejar antes da água faltar”, pontuou ele.
O geógrafo Daniel Rodrigues de Lira, professor de ciências geográficas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), destacou que o resultado já era esperado. “Nos estudos de clima passados já foi detectado que essa área teve clima árido há milhares de anos”, afirmou. “O ineditismo é conseguir detectar esse dado em tempo humano, mas era algo já esperado pelos índices de vegetação e de aridez da região”.
Ainda assim, hoje a localidade se parece mais com o semiárido que com um deserto propriamente dito, segundo o biólogo Renato Garcia, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf). “Não secou agora, sempre foi a mais seca, mas alguns processos potencializam o déficit hídrico”, disse. “Não foi perceptível que estava secando mais, sempre foi uma região diferente”.
Expansão do Semiárido
No mesmo estudo, o Cemaden e o Inpe alertaram que a tendência de aumento da aridez está em todo o país, com exceção da região Sul e do litoral dos estados de Rio de Janeiro e São Paulo. No Sul, por exemplo, é observada uma tendência inversa, associada ao aumento das chuvas, que também tem causado danos como enchentes e enxurradas nos últimos anos.
Em Pernambuco, 123 dos 184 municípios do Estado correm risco de desertificação, mostrou estudo de 2021 da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Esse processo pode resultar, segundo os especialistas, em ausência quase total de chuva, falta de água, solo com vegetação espaçada e poucos recursos naturais para sobrevivência. E, assim, em uma migração para o meio urbano, gerando mais inchaço nas cidades
Visitas: 21748331
Usuários Online: 1