O Quinteto Violado e a Banda de Pau e Corda, grupos pernambucanos contemporâneos, surgidos no começo da década de 1970, haviam iniciado a turnê comemorativa do cinquentenário de carreira quando tiveram que interromper as apresentações, por conta da pandemia. Mas ainda houve tempo de fazer o registro do show Na estrada, realizado em 14 de março, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. A gravação resultou no álbum que acaba de ser lançado pela Biscoito Fino
Com direção musical de Dudu Alves, tecladista e vocalista do Quinteto, e Sérgio Andrade, vocalista e percussionista da banda, o espetáculo, realização das produtoras mineiras Nó de Rosa e Cadoro Eventos deveria ser levado a São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Recife e Fortaleza. Mas o projeto precisou ser suspenso, depois de ser visto em Juiz de Fora e na capital mineira. Em compensação, o Na estrada ao vivo agora pode ser apreciado nas plataformas digitais, especialmente por quem acompanha a trajetória desses dois representantes da cultura popular nordestina.
Esse trabalho é norteado pela ideia de movimento no tempo e no espaço, retrata um passeio por cinco décadas de música e destaca o elo entre o Quinteto Violado e a Banda de Pau e Corda. A tradução dessa experiência em imagem, pintura do artista plástico Fábio Baroli, foi utilizada pelo designer Pedro Alb Xavier na criação do projeto gráfico, ao colocar em relevo um pião, estampado na capa do disco — brinquedo que, em outros momentos, fez a alegria da criançada —, presente na memória afetiva de muita gente.
No repertório foram reunidas músicas que marcaram a carreira dos dois grupos. A do Quinteto Violado é representada por Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira), Palavra acesa (Fernando Filizola e José Chagas), e dois medleys: o que junta Forró de Domiguinhos, Sete meninas (Toinho Alves e Dominguinhos), O plantador (Geraldo Vandré e Hilton Acioly); e o que coloca lado a lado Cavalo marinho (adaptação de Marcelo Melo. Fernando Filizola e Luciano Alves) e Mundão (Fernando Filizola e Luciano Alves). Já o da Banda de Pau e Corda traz Esperança (Waltinho e Sérgio Andrade), Mestre mundo (Luiz Bandeira e Julinho), e também dois pot pourris. Um formado por Lampião (Waltinho e Roberto Andrade) e Têmpera (Waltinho e Roberto Andrade), e o outro com Pipoca moderna (Sebastião Biano e Caetano Veloso) e A briga do cachorro com a onça (Sebastião Biano).
Vocalista e violonista, Marcelo Melo é o único remanescente da formação original do Quinteto Violado. Os outros integrantes são: Dudi Alves (teclado e voz), Ciano Alves (flauta), Sandro Luis (contrabaixo) e Roberto Medeiros (bateria e percussão). Na Banda de Pau, que tem o violonista e percussionista Sérgio Andrade como um dos fundadores, conta com Júlio Rangel (violão e voz), Zé Freire (violão), Yko Basil (flauta), Sandro Eduardo (contrabaixo) e Alesandro Baros (bateria e percussão).
Após o lançamento do CD, os grupos estão se preparando para retomar a turnê. A primeira apresentação terá como palco justamente o Palácio das Artes, em Belo Horizonte, no dia 18 de março. Depois, seguem para São Paulo, onde fazem show no Teatro Bradesco, no dia 25 do mesmo mês. Novas datas estão sendo definidas para cidades onde o Quinteto Violado e a Banda de Pau e Corda iriam fazer o Na estrada — Brasília entre elas.
Na Estrada Ao Vivo
Álbum do Quinteto Violadoe Banda de Pau e Corda com nove faixas. Lançamento da Biscoito Fino nas
plataformas digitais
Entrevista / Marcelo Melo (Quinteto Violado)
O álbum Na estrada celebra cinco décadas de carreira do Quinteto Violado e Banda de Pau e Corda.
O que destaca mais neste encontro?
No álbum Na estrada, eu destacaria a importância dos dois grupos que apresentaram novos caminhos para a música popular brasileira no início dos anos 1970, troxeram uma significativa contribuição para revelar uma nova música nordestina.
Que relação o Quinteto manteve com a contemporânea Banda de Pau e Corda ao longo dos anos?
O Quinteto Violado manteve uma atividade mais regular e produtiva ao longo do 50 anos. Mas a Banda de Pau e Corda esteve sempre ligada ao Quinteto Violado através de projetos e representada nos ciclos culturais do Nordeste. Duas forças respeitáveis na MPB.
Como surgiu a ideia de juntar as duas formações no show que gerou o álbum ao vivo?
A ideia surgiu dos produtores Carlos Alberto Xaulim e Gegê Lara, que viram a oportunidade de duas bandas que estavam prestes a celebrar 50 anos de história entrarem em turnê para celebrar esse encontro pela música pernambucana. Toinho Alves (baixista e fundador do Quinteto Violado) foi quem deu o nome à Banda de Pau e Corda, criando um laço de uma grande amizade que é mostrada no palco com as músicas mais representativas de cada grupo.
Entrevista / Sérgio Andrade (Banda de Pau e Corda)
Na sua avaliação, qual foi a contribuição da Banda de Pau e Corda para a música popular brasileira?
Acredito que uma das principais contribuições da Banda de Pau e Corda para a música brasileira foi defender a possibilidade de criar uma canção popular brasileira a partir das referências locais. Falamos do Brasil a partir das nossas referências mais próximas. Às vezes, gostam de nos classificar como música regional, mas o que de fato fazemos é música popular brasileira.
Ao ser formada, qual foi a principal referência da banda?
Cada um dos integrantes originais da Banda trazia uma bagagem diferente. Todos nós gostávamos muito de música, mas cada um trouxe um pouco de sua própria experiência para compor o trabalho. Podemos falar que o Quinteto Violado foi uma grande inspiração. Nos apresentou um caminho musical possível. Mas também nos inspiramos muito em grandes nomes, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque.
Quantos músicos da formação original ainda se mantêm no grupo?
Da formação original, apenas um integrante — eu, Sérgio Andrade — permanece no grupo. É muito difícil viver de música no Brasil, então muitas pessoas passaram pela Banda de Pau e Corda e, cada uma, à sua maneira, deixaram sua contribuição. Apesar das mudanças, sempre buscamos nos manter fiéis a sonoridade que criamos no início dos anos 1970