Desde que o ex-prefeito do Recife Geraldo Júlio declarou de forma incisiva que não seria o candidato do PSB a governador de Pernambuco, o partido tem repisado que ainda assim caberá à sigla a indicação do sucessor de Paulo Câmara (PSB). Entretanto, mesmo com a quantidade de nomes que vêm sendo ventilados para liderar a chapa majoritária, o que se observa nos bastidores é que essa profusão de nomes mostra a falta de consenso interno e as dificuldades de encontrar uma solução natural para a disputa.
O critério que tem sido trabalhado internamente entre os socialistas é justamente a preocupação de escolher um nome que possa unir a agremiação e os partidos que integram a Frente Popular. Entre os nomes já especulados estão os secretários estaduais José Neto (Casa Civil), Décio Padilha (Fazenda), Fernandha Batista (Infraestrutura e Recursos Hídricos); e os deputados federais Danilo Cabral, Tadeu Alencar e Felipe Carreras.
“Não é normal que a essa altura, num governo que vai ter uma sucessão, ainda não esteja claro quem vai ser o sucessor. Se pegarmos o exemplo de São Paulo, nós já sabemos quem será o candidato do governador João Doria (PSDB). Então, o fato do PSB até agora não ter definido isso claramente, não é uma estratégia, mas uma dificuldade que o partido tem de escolher quem vai ser o candidato” comentou o cientista político Vanuccio Pimentel, professor da Asces-Unita.
A nota publicada pelo colunista Lauro Jardim do jornal O Globo, na última quarta (12), afirmando que a decisão do governador Paulo Câmara seria pelo nome de Danilo Cabral, joga luz sobre essas correntes distintas nas hostes socialistas, que precisam trabalhar com o prazo definido pelo próprio chefe do Executivo, até o dia 31 de janeiro. O presidente estadual do PSB, Sileno Guedes, assim como os líderes partidários procurados pelo JC, afirmaram que não há uma decisão e que o governador tem agenda com todos os partidos pelos próximos 15 dias para tratar da questão.
Se compararmos com as eleições municipais de 2020, como bem cita a cientista política Priscila Lapa, professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), não havia dúvidas de que o candidato do PSB seria o então deputado federal João Campos. “Ele seria o candidato natural do partido, pela posição de ser filho de Eduardo Campos, mas também pela liderança política que ele começou a concretizar. Esse nome foi trabalhado antes e quando chegaram às eleições, ninguém tinha dúvidas de que o projeto do PSB era João Campos”, rememora a docente.
Por outro lado, no atual contexto, a cientista política afirma que hoje o partido “não tem nome para suceder Paulo Câmara”. “O PSB não estaria errado em segurar o nome do candidato, porque se ele lançasse no começo, quando a oposição começou a se manifestar, daria margem para essa pessoa ser triturada. Mas, agora parece que eles não têm o nome, e não que seria uma estratégia de segurar esse lançamento”, avaliou Priscila.
Outro ponto levado em consideração pelos especialistas é de que, se de fato houvesse uma alternativa à Geraldo, mesmo que não fosse lançada neste momento, ela estaria sendo trabalhada para capitalizar as ações que Paulo Câmara tem anunciado desde o segundo semestre de 2021, com o Plano Retomada – cujos recursos são da ordem de mais de R$ 5 bilhões.
“Não seria razoável o partido por vontade própria não ter um candidato e deixar de aproveitar esse momento. Parece-me que há uma dificuldade interna e que ela é gerada pelo próprio desgaste do tempo de gestão. Somados os governos de Eduardo Campos e Paulo Câmara, nós temos 16 anos de administração do PSB, então me parece que existe uma dificuldade interna de resolver essa questão”, destacou Vanuccio Pimentel.
Peça-chave
A demora por uma definição também está atrelada às negociações entre o PT e o PSB no âmbito nacional. O fato é que Pernambuco é colocado como ponto estratégico e a decisão dos socialistas em reforçar que o candidato será do PSB, referendada no congresso estadual do partido, mostrou que não é algo a ser negociado. Nem mesmo a pré-candidatura do senador Humberto Costa (PT), aprovada uma semana depois pela maioria da direção petista, colocaria isso em dúvida.
O indicativo dessa tese é que após os recentes encontros entre Humberto e o governador para enfatizar que a candidatura do PT é para valer e tem aval do ex-presidente Lula, logo recebeu como recado a notícia de que o PSB já teria escolhido o candidato. Nos bastidores, comenta-se que circular essa suposta definição seria um movimento de lideranças nacionais do PSB.
“Quanto mais o PSB demora a apresentar um candidato, mais ele fica dependente da aliança com Lula aqui em Pernambuco. Porque imagine que não seja Geraldo, mas que seja um candidato muito menos conhecido que ele – porque Geraldo não é tão conhecido no Estado todo, então ele dependeria de uma figura muito forte, como Lula, que pudesse de maneira rápida torná-lo conhecido”, afirma o cientista político Vanuccio Pimentel.
Oposição
Enquanto esse imbróglio interno não é resolvido, os especialistas explicam que os pré-candidatos da oposição poderiam ser beneficiados quando se trata de ocupar espaços. Os prefeitos de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB); Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira (PL); e Petrolina, Miguel Coelho (DEM), percorrem as bases e os redutos para dialogarem mais de perto com prefeitos, lideranças e a própria população.
“Comparo com a situação do presidente Jair Bolsonaro (PL). Em 2018, quando ninguém dava credibilidade a candidatura dele, Bolsonaro saia ocupando espaços. Ele andava para cima e para baixo e tinha articulações que ninguém tinha. Quando precisou usar isso, ele já tinha um exército de seguidores, todo mundo sabia que ele era candidato”, afirmou Priscila Lapa.
O problema é que a oposição também esbarra na dificuldade de nomes. Há muita opção, mas ninguém se mostra disposto a abrir mão dos seus espaços. “Do ponto de vista da aliança partidária, acho que a oposição não se beneficia. Aqui no Estado, tudo vai ficar em suspenso, no caso dessas alianças formais, até a definição do PSB. É a Frente Popular que acaba concentrando muitos partidos, embora com muita dificuldade de gerir essa coalizão, então esse não é o momento de haver dispersão destas legendas”, explicou Pimentel
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