Entra ano e sai ano, entram e saem governantes, mas nada muda. Lamentavelmente a gente já mostrou os fatos e já contou as mesmas histórias milhares de vezes. E o enredo se repete mais uma vez: os hospitais públicos estão degradados e superlotados, com piso arrancado e tetos infiltrados.
Há filas de espera que parecem ser intermináveis para realização de cirurgias e, em muitos casos, famílias não conseguem informações sobre o quadro de parentes internados.
Na manhã da última terça-feira (26), por exemplo, o relato de familiares, em frente ao Hospital da Restauração (HR), no Derby, área central do Recife, era de que estava desaparecido um dos pacientes, que havia sido transferido de Surubim (Agreste de Pernambuco) para a unidade de saúde, no domingo (24), após sofrer um sinistro de trânsito com moto.
“Perderam meu irmão. Já rodei o hospital todo, falei com assistente social, e nada de encontrá-lo. Estou sem notícias. Só Deus sabe onde jogaram ele”, contou Givanilda Cunha da Silva, 27 anos, que está desempregada.
Depois de passar por muita angústia, ela descobriu que o irmão estava no bloco cirúrgico. “Teve que operar porque a bacia deslocou. Só tiveram paciência para procurar meu irmão porque viram vocês, repórteres. Depois que vocês chegaram, rapidinho encontraram”, disse. Na sexta-feira (29), o irmão de Givanilda já estava com programação de alta hospitalar. “Mas ele sofreu muito.”
Inaugurado há 52 anos, o HR recebe pessoas de todo o Estado de Pernambuco. É a maior emergência pública do Norte e Nordeste do Brasil, além de ser referência no atendimento de casos de queimaduras graves, intoxicação, agressões, acidentes de trânsito e neurocirurgia. Mas infelizmente, além do descaso, os pacientes e acompanhantes relatam superlotação, demora no atendimento e na realização de exames no HR.
“Meu irmão está com um tumor na nuca muito profundo. Espera fazer uma biópsia há muito tempo, mas a informação que temos é que tem uma máquina quebrada. Ele está internado faz 50 dias. Só faz piorar. Não anda mais nem movimenta”, relata a agricultora Ana Cláudia da Silva, 38 anos, moradora de Barra da Guabiraba, município do Agreste de Pernambuco.
Na última terça-feira (26), após acompanhar o irmão por quase dois meses no hospital e presenciar a precariedade do hospital, ela voltou para casa e foi substituída pela irmã. “Lá dentro (do hospital) está muito ruim. O atendimento merecia melhorar muito”.
A dona de casa Santina da Conceição, 67 anos, veio de Cachoeirinha, no Agreste do Estado, onde mora, para ter notícias do irmão, que teve um acidente vascular cerebral (AVC). “Saí de casa às 2h da manhã. Da última vez que vim, na semana passada, encontrei meu irmão descoberto, gelado de tanto frio. Queria deixar um cobertor para ele, mas não permitiram. E ele estava de fralda com muito xixi. Não sei como cuidam”, lamentou Santina.
Insegurança no Hospital da Restauração
Outro ponto preocupante é que o HR tem vivenciado ainda dias de insegurança. Recentemente funcionários têm denunciado roubos dentro da unidade. Há pouco mais de um mês, trabalhadores relataram que um homem entrou facilmente nas salas e quartos de repouso do hospital para roubar objetos e dinheiro das equipes de saúde.
Questionada sobre a situações relatadas no HR, a Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES) responde, em nota, que “o serviço social é o elo entre acompanhantes e/ou família com os pacientes internados no hospital. Os acompanhantes de usuários internados nos leitos de enfermaria recebem informações diretamente da equipe médica. Nos locais em que não é permitida a presença do acompanhante, como a unidade de trauma, UTI (unidade de terapia intensiva) e sala de recuperação, os familiares contam com horários definidos pelo serviço social para que as informações sobre a evolução clínica sejam repassadas”.
A pasta acrescenta que, quando não é possível a presença de familiares, o serviço social também disponibiliza número telefônico para que a família possa ter informações. Em relação à higiene corporal e demais cuidados com os pacientes, a SES informou que a “equipe multiprofissional segue o protocolo recomendado de acordo com o quadro clínico, com todas as ações realizadas de forma contínua”.
Por Cinthya Leite/JC
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