O mais interessante da obra de Vanderley é sua interface digital. Ele coletou entrevistas em áudio que Luiz Gonzaga concedeu ao longo da vida e transformou em texto corrido, como se o próprio Gonzaga contasse sua história.
Em cada página há um QR Code para que o leitor ouça Gonzagão contar sobre sua infância sertaneja no sertão nordestino, o período em que esteve no Exército, a dura vida antes da fama e o sucesso do baião no Rio de Janeiro. Trata-se de uma obra artesanal, mas de qualidade profissional, que não está sendo vendida em livrarias, mas pela internet.
Vanderley é um pesquisador benquisto no meio do forró. Gerente do Banco do Brasil em Fortaleza, é um colecionador de relíquias da família Gonzaga. Nascido em Piancó, na Paraíba, em 1979, era figura conhecida da internet devido aos sites Gonzaguinha.com.br, criado em 1998, e LuizLuaGonzaga.com.br, montado em 2006.
Sua ligação com a família Gonzaga vem desde o fim dos anos 1980, quando seu pai, Paulo Marconi, também gerente do Banco do Brasil, foi transferido para Exu. Como figuras eminentes da minúscula cidade, Marconi e Gonzaga fizeram amizade. Quando o rei do baião morreu, em 1989, Vanderley filmou o velório com uma câmera amadora de seu pai. Já adulto, tornou-se um dos principais amigos e confidentes de Dominguinhos, considerados por muitos o herdeiro de Gonzagão na sanfona do forró.
Chama atenção o fato de que Gonzaga, além de ter tido uma vida muito interessante, conseguiu ter um rol de biógrafos para lá de competentes.
Em 1996 a francesa Dominique Dreyfus, que viveu sua infância no Brasil, publicou “A Vida do Viajante: A Saga de Luiz Gonzaga”. O livro é talvez a melhor biografia musical já escrita no país, não apenas pelo personagem, mas pelo trabalho cuidadoso da pesquisadora. Com uma escrita sedutora e muito sensível, Dominique conseguiu construir um Gonzagão humano, um gênio com defeitos e qualidades, de vida pessoal atribulada e fama inconteste.
Em 2006, a pesquisadora Regina Echeverria escreveu “Gonzaguinha e Gonzagão: Uma História Brasileira”, biografia paralela de pai e filho, que viveram uma relação conflituosa. Esta ótima obra serviu de inspiração para o roteiro de “Gonzaga: De Pai pra Filho”, lindo filme de Breno Silveira. Bem aceito por público e crítica, Breno Silveira conseguiu, como já havia feito em filmes anteriores, fazer dialogar o Brasil popular dos interiores e os dramas freudianos das classes médias refinadas e cultas, fazendo a ponte entre os diversos países sociais que temos dentro de nosso país.
O livro de Vanderley entra para este rol de grandes trabalhos e engrandece a trajetória de Luiz Gonzaga. Assim como os trabalhos de Dreyfus, Echeverria e Silveira, “Luiz Gonzaga: 110 Anos do Nascimento” servirá de fonte inescapável para todos aqueles que queiram entender o que foi a música brasileira do século 20
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