A Pesquisa Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) é realizada, mensalmente, pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), visando traçar um perfil do endividamento no Brasil, acompanhando o nível de comprometimento dos consumidores com dívidas e sua percepção em relação à sua capacidade de pagamento
O levantamento da CNC, em dezembro, sobre o perfil de endividamento dos brasileiros revelou um forte avanço da proporção de endividados e inadimplentes, nos últimos anos, refletindo uma sequência de fatos da conjuntura econômica nacional, agravados pelas condições impostas pela pandemia e pelos reflexos globais do conflito bélico na Europa.
O endividamento das famílias tem sido pauta assídua no noticiário econômico, desde o segundo semestre do ano passado. Ele tolhe o poder de compra e o crescimento da economia, levando a um desempenho tímido no varejo e na indústria. Instituições, como a CNC, que acompanham a situação e a percepção dos brasileiros quanto ao assunto apontam o aumento na busca por crédito e o avanço na inadimplência como síntese de uma trajetória iniciada com a pandemia em 2020 e que impõe desafio relevante para o início do novo governo em 2023.
A tendência ao endividamento e inadimplência ainda reflete o período mais grave da pandemia em que foram necessárias medidas para conter a disseminação do coronavírus. O trajeto, desde então, foi de queda na renda do trabalho, compensada de forma descontinuada pelo auxílio emergencial, seguida de uma maior busca por crédito – seja para compor a renda emergencial ou para iniciativas empreendedoras dos que perderam o trabalho –, cujo custo aumentou substancialmente à medida que o Banco Central ajustou a taxa básica de juros (Selic) – a qual era de 2,00% a.a. em 2020 e atualmente se encontra no patamar de 13,75% a.a. – como mecanismo para conter a inflação.
Segundo a pesquisa, medida pela média anual, a proporção de famílias que se declaram endividadas no Brasil avançou pouco mais que 14 pontos percentuais de 2019 a 2022, saindo de 63,6% para 77,9%. Esse movimento reverteu uma tendência de queda que se observava desde 2013, quando era de 62,5%, chegando a 60,3% em 2018.
No estado de Pernambuco, a trajetória foi semelhante, com uma queda relativamente mais acentuada entre 2014 e 2018 (de 73,0% para 64,6%), mas também um avanço recente bem mais acelerado que o observado na média nacional, chegando a 81,0% em 2022.
Em ambos os casos – Brasil e Pernambuco – trata-se de uma média recorde na série histórica da pesquisa. A proporção de inadimplentes, por sua vez, também avançou consideravelmente no Brasil em 2022, quando aproximadamente três a cada dez se encontraram com algum pagamento ou compromisso financeiro atrasado.
Em Pernambuco, a proporção alcançou efetivamente a marca de 3 em cada 10 famílias, patamar que se mantém desde o ano de 2020, impactando sobretudo a perspectiva de consumo entre as famílias de mais baixa renda, com até dois salários mínimos mensais.
Para essa situação, corroborou sobretudo o avanço persistente dos preços em itens de despesa doméstica mais essenciais, aos quais as famílias de baixa renda são mais sensíveis – como alimentos (alta de +13,23% no ano) e bebidas (+11,45%), materiais de higiene (+16,69%) e limpeza (+19,49%) e produtos farmacêuticos (+13,52%) –, que acumularam alta de preços muito acima da média geral (+5,79%) e pressionaram fortemente o orçamento, afetando a capacidade de honrar compromissos financeiros.
A essa situação somou-se o aumento frequente do custo do crédito, refletindo a subida acelerada da Selic, o que também dificulta o pagamento das dívidas em atraso. Nesse contexto, também preocupa o avanço paulatino do percentual de famílias sem condições de pagamento das dívidas em atraso, que em 2022 chegou a 10,7% no Brasil, mas se apresenta mais elevado em Pernambuco, onde saiu de 12,6% em 2019 para 15,2% no último ano
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