Quando se viaja para o Sertão de Pernambuco, uma parada quase obrigatória é realizada em plena rodovia para compra de mel engarrafado. Algumas pessoas não imaginam que, na caatinga, mesmo com sol a pino, a região é a principal produtora do mel no Estado, especialmente o Araripe. A seca prolongada entre 2012 a 2016, prejudicou as abelhas e os pequenos agricultores, fazendo a venda do produto sair de 1.753,476 toneladas para 135.773 toneladas (uma queda de mais de 1.200%). Mas a resiliência dos apicultores se sobressaiu, colocando novamente Pernambuco entre os 10 maiores produtores do Brasil e o quarto do Nordeste. De acordo com os últimos dados levantados pelo IBGE, o Estado foi capaz de fabricar 1.248.005 toneladas de mel em 2021.
Segundo Kerlison Johnattan, analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), nos dias 13 e 14 de maio, será realizado o 15° encontro estadual de apicultura e o primeiro com a presença de todos os estados nordestinos para reforçar a importância da Meliponicultura. Ele acredita que profissionalizar a produção do mel, de modo que a maioria dos apicultores possa ter certificado estadual, é uma das saídas para geração de renda na região sertaneja.
“Além de resgatar os produtores que vivem na roça, a apicultura traz um rendimento para os apicultores de pelo menos um salário mínimo (R$ 1.302) por mês. O Estado ganha em dobro. O apicultor ganha sua renda e cuida do meio ambiente sem desmatamento. Para produzir mel, a abelha precisa de plantas nativas floradas da região no período certo. Quanto mais apicultores, mais plantas e áreas preservadas”, explica
Kerlison detalha que os municípios de Pernambuco mais fortes na produção de mel são, respectivamente, Araripina e Moreilândia, que têm casas certificadas para os apicultores comercializarem seus produtos. O município do Araripe, aliás, tem pelo menos 200 apicultores.
O SEBRAE considera importante a participação do Estado e do Governo Federal no apoio aos apicultores, porque toda a produção do mel exige um investimento relativamente alto com os equipamentos que possam movimentar o mel, desde o recebimento do favo até envase, além das capacitações. “Têm equipamentos de inox, a parte de rotulagem e da embalagem, por exemplo, e a dificuldade de muitos é o valor. Precisamos que entidades, como a ADEPE, e o Governo Federal cheguem junto para qualificar os apicultores”, pontua Kerlison
REVEZES E VITÓRIAS
Apesar dos revezes com a seca, que causa perdas de colmeias e queda de renda, a apicultura dá perspectivas ao homem e à mulher sertanejos, que enxergam esta profissão como uma oportunidade de mostrar o valor de sua terra. Moradora de Moreilândia, a apicultura Maria Iracema Lopes de Alencar, 52 anos, diz que o mel de abelha pode ser usado na culinária, em produtos artesanais como sabonetes, hidratantes e condicionadores. Ela conta que sua associação produz entre 40 e 45 toneladas e vende para Alagoas.
“Tem apicultor que tira uns R$ 5 mil se ele tiver umas 100 colmeias. Se tiver 30, 40 colmeias, acredito que consegue uns dois salários. A jornada de trabalho é relativa, depende da quantidade, mas pode variar de 6h a 8h”.
Iracema, que passou a trabalhar com abelhas há 10 anos, descreve que a nova profissão: “é apaixonante trabalhar com abelha, com o manejo, ver o resultado do mel, tem uma aceitação muito boa. A abelha nos dá uma sensação de tranquilidade. Já cheguei estressada para apear e sai tranquila e leve”
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