Eleito governador, em 1997 Jarbas Vasconcelos iniciou – após a posse no ano seguinte – a defesa da construção de uma ferrovia que cortasse o estado rumo ao sertão. Ninguém no Governo Federal levou a ideia a sério, uma vez que o leilão da malha Nordeste fora realizado com a criação da Companhia Ferroviária do Nordeste pelo Grupo CSN.
O tempo passou e no Governo Lula surgiu a ideia de uma ferrovia de três cabeças ligando a cidade de Eliseu Martins, no Piauí, aos portos de Pecém (CE) e Suape (PE), um projeto de 1.753 quilômetros na bitola, 1,6 metros com um terceiro trilho de 1,0 metro, de modo a conectar os vagões que já existiam na antiga malha.
O projeto foi lançando em 2006, iniciado em 2008, no segundo Governo Lula, e desde então o que se possa imaginar para que a ferrovia fosse inaugurada sem até hoje transportar uma tonelada de carga mesmo tendo consumido quase R$ 6 bilhões. Depois de tantos anos, especialistas já discutem se o modelo de negócio se sustenta, pois os grãos que deveriam ser transportados da região do Matopiba agora seguem por portos do Norte. Ficou apenas a carga de minério disputada por Suape e Pecém.
Ao longo dos anos, ficou claro que o fato da sede em Fortaleza da companhia e a proximidade da empresa com a classe política e empresarial do Ceará criaram as condições para que o destino Pecém de fortalecesse, especialmente pelo que já existe hoje no porto daquele estado.
Isso foi materializado no final do governo Bolsonaro, quando a CSN conseguiu que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), com um aditivo escrito sob medida para que a Transnordestina se limitasse ao trecho Eliseu Martins-Pecém num contrato bem amarrado, que foi validado no dia 23 de dezembro e registrado em cartório.
Foi o final de uma sinalização que já estava definida em 2021, quando o então ministro da Infraestrutura, Tarcisio Freitas, indicou ao governo de Pernambuco que ele fosse atrás de um parceiro para fazer a parte que nos toca. Pernambuco achou a Bemisa (dona da mina de minério de ferro no Piauí) e fechou um acordo que incluiu a separação da ilha de Cocaia para futuro terminal.
A surpresa veio com o referendo dos novos governadores do Ceará e Piauí do acordo que excluiu Pernambuco do negócio. E o início de uma série de promessas de Lula e de políticos do PT e de vários partidos de que vai rever o acordo, inclusive com a obrigação da CFN de voltar ao traçado de três cabeças.
Pode ser. Mas até agora, o que está valendo é o contrato CFN/Transnordestina Ceará e Piauí. E, embora ministros e senadores afirmem que a ferrovia vai ser feita, as condições postas só confirmam a proposta da cisão. Ontem, mais um ministro afirmou que a ferrovia vai ser feita. Ótimo, mas como próprio Renan Filho disse, na Rádio Jornal, se houver condições de Pernambuco buscar um parceiro, vai apoiar.
Então, talvez fosse melhor para a governadora Raquel Lyra começar a atuar para resolver o seu problema sem apostar na promessa de que a CFN vai fazer o ramal de Suape. Ou que a União poderá vir a construí-lo. A Transnordestina virou um trauma para Pernambuco e por isso mesmo é bom a gente começar a cuidar do que é possível. Até porque ninguém acha mesmo que União vai fazer a obra
Por Fernando Castilho/JC
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