O dia do estudante, comemorado nesta sexta-feira (11), foi especial para dona Maria Edelzuita de Souza. A idosa, de 94 anos, que voltou a estudar em 2022, foi homenageada por colegas, professores e demais funcionários do Centro de Educação de Jovens e Adultos João Barracão, em Petrolina, no Sertão de Pernambuco
Quando chegou para mais um dia de aula, dona Edelzuita foi recebida com aplausos, cartazes e uma faixa simbólica de “estudante mais idosa do mundo”
“Eu faço questão de vir para a escola até no dia que não tem aula. A escola é meu patrimônio, não deixo de estudar mais, só quando eu morrer”, disse dona Edelzuita, enquanto recebia o carinho dos colegas
Maria Eduarda, de 17 anos, segurava um dos cartazes homenageando a aluna mais experiente da escola. A adolescente, que poderia ser neta ou bisneta de dona Edelzuita, destaca o efeito motivacional que a idosa desperta nos outros estudantes
“Serve de incentivo, que a gente não pode desistir dos estudos, que ainda está em tempo da gente voltar para a sala de aula. Ela é uma inspiração e tanto”, afirma a estudante
Assídua, comprometida e cheia de sonhos, como escrever o livro da própria vida e entrar na faculdade, dona Edelzuita é a estudante mais idosa da professora Dilma Barros
“Tem uma frase que diz assim:’ A educação é o caminho para a liberdade’. E Dona Edelzuita, como os demais idosos dessa sala, deram os primeiros passos rumo a Escola João Barracão com o objetivo de aprender a ler e escrever. Hoje, enquanto muitos alunos jovens e adultos estão na lista do analfabetismo, eles, dona Edelzuita, estão aqui há um ano, aprendendo a ler e escrever”, diz a professora
A experiência de vida de dona Edelzuita ajuda a enriquecer as aulas, segundo a professora Dilma. “Ela sempre enriquece as aulas com suas experiências. Sempre traz uma música, alguma coisa. Ela enriquece nossas aulas, é um exemplo, como todos os idosos aqui são exemplos para todos nós. É uma motivação”.
Em julho do ano passado, o g1 e a TV Grande Rio acompanharam o primeiro dia de aula de dona Edelzuita, na época com 93 anos. A história, que mostrava a vontade dela em aprender, virou motivação para que outras pessoas retomassem os estudos
Uma dessas pessoas é dona Creuza da Silva, de 74 anos. A idosa, que passou a maior parte da vida em Recife, parou de estudar aos 7 anos, para cuidar de crianças e ajudar a mãe. A retomada à sala de aula veio após ver a história de dona Edelzuita na TV Grande Rio
“Quando eu vi ela falando na televisão, eu disse a minha filha que tinha uma senhora que ia estudar no João Barracão, e eu tinha vontade de estudar. Minha filha me matriculou e eu vim para cá”, conta
Embora a chance de aprender a ler e escrever tenha chegado só depois dos 70 anos, dona Creuza conhece bem o ambiente escolar. Por vários anos ela trabalhou como serviços gerais em uma escola de freiras em Recife
“Quando cheguei aqui [no João Barracão] fiquei tão feliz, porque eu nunca tinha ido a escola. Eu trabalhava na escola, mas nunca tinha ido para a escola. Meu sonho era estudar”
Colegas de turma, dona Edelzuita e dona Creuza se tratam como irmãs. Uma sempre senta ao lado da outra. Na outra ponta da sala fica Jéssica Muniz, de 32 anos. Ela, que é uma das mais novas da turma, parou de estudar aos 17, quando engravidou. As colegas mais velhas servem como combustível para a estudante recuperar o tempo perdido
“Tem dia que a gente acorda com aquela falta de coragem e quando eu imagino ela, com a idade que está, vindo para a escola, isso me dá um ânimo e eu venho”, diz Jéssica, acrescentando: “Eu prefiro estar aqui do que nas outras salas com os rapazinhos e as mocinhas. Aqui é uma energia boa com elas"
Por Emerson Rocha, g1 Petrolina
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