O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) foi formalmente indicado nesta sexta-feira (08) para ser o vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição deste ano para a Presidência da República. A escolha do ex-tucano representa a maior guinada à direita do PT. Durante o evento, Lula celebrou a parceria.
“Tenho certeza que o PT aprovará seu nome como candidato a vice. […] Vou me dedicar de corpo e alma para que essa aliança seja definitiva”, disse Lula durante a reunião entre os partidos. O encontro foi realizado em um hotel de São Paulo. Também participaram os presidentes do PSB, Carlos Siqueira, e do PT, Gleisi Hoffmann, congressistas, governadores e prefeitos de ambas as siglas.
A indicação será levada agora para aprovação da Executiva Nacional do PT, que se reúne para deliberar no dia 14 de abril. Alckmin precisa ter seu nome aprovado. Embora haja grande apoio no partido, uma ala relevante ainda é contrária ao nome do ex-governador por considerar que seu perfil não agrega para somar novos eleitores e pode, inclusive, atrapalhar. Ainda assim, as chances de seu nome ser barrado são mínimas.
Alckmin se filiou ao PSB em 23 de março para construir o caminho de sua indicação na chapa de Lula. Mas nada, porém, suplanta o fato de ele ter sido fundador do PSDB em 1988 e ter permanecido no partido até dezembro do ano passado. O ex-governador de São Paulo é um tucano histórico na alma e tem suas origens ligadas a Mario Covas (1995-2001), outro peessedebista raiz.
Alckmin também foi adversário de Lula nas eleições presidenciais de 2006. O petista acab0u reeleito como presidente. A disputa entre os 2 tem sido usada por Lula para dirimir críticas e pontuar diferenças em relação ao presidente Jair Bolsonaro. Para Lula, Alckmin foi adversário, Bolsonaro é hoje inimigo.
“Feliz era este Brasil quando a polarização se dava entre o PSDB e o PT. […] Já fui adversário do Alckmin, do [José] Serra, do Fernando Henrique Cardoso, e nunca nos desrespeitamos, nunca nos deixamos de nos tratar de forma civilizada. Enquanto presidente, eu visitava São Paulo e o Alckmin, como governador, o tratamento sempre foi respeitoso, civilizado, dentro daquilo que a democracia e os bons modos do humanismo exigem que as pessoas façam”, disse Lula no evento.
Durante seu discurso, Lula afirmou que a aliança com Alckmin significa a construção de um caminho para reconstruir o país. “Se essa chapa for formalizada, não é só para disputar as eleições. Talvez ganhar as eleições seja mais fácil do que a tarefa que a gente terá pela frente para recuperar essa país”, disse.
O petista também afirmou que, após a oficialização da chapa, o PSB será chamado para participar da montagem do plano de governo e das estratégias eleitorais. Ele ressaltou ainda a aliança histórica entre os 2 partidos, tanto na composição de governos quanto no apoio eleitoral.
Lula lembrou a ligação de Alckmin com o ex-governador de São Paulo, Mário Covas, um dos maiores representantes do PSDB, ao dizer que o ex-tucano tem experiência como vice. “Ninguém tem mais experiência como vice do que Alckmin. Ele foi vice do Mário Covas e o Covas era um companheiro turrão. […] E o Alckmin aprendeu a ser vice do Covas durante 6 anos”, disse.
Em diversos dos afagos que fez ao provável companheiro de chapa, Lula pediu que Alckmin não seja mais tratado como ex-governador e ele também não seja chamado de ex-presidente. “Você me chama de companheiro Lula e eu te chamo de companheiro Alckmin e fica acertado isso”, disse.
Ao ter seu nome anunciado, Alckmin afirmou que “quer somar esforços”. “É uma honra ter meu nome indicado. Não é hora de terrorismo, é hora de generosidade. É um momento de união. Vamos somar esforços para reconstrução do nosso país”, disse Alckmin.
Histórico
Mesmo com o empresário José Alencar (1931-2011), o cargo de vice sempre se encaixava no perfil do PT. Alencar, vice de Lula de 2003 a 2010, era um empresário bem sucedido, mas não era alguém de expressão nacional. Alckmin é um cristão fervoroso, defensor de Estado reduzido e já foi candidato a presidente duas vezes, representante legítimo do eleitorado paulista mais de direita.
Na prática, a chapa Lula-Alckmin é, de maneira indireta, o mais próximo da realização de um sonho dos intelectuais paulistas que criaram o PSDB em 1988, mas que no início dos anos 1980 tentaram uma aliança com os sindicalistas representados por Lula. Queriam construir um partido socialdemocrata nos moldes dos que governaram vários países europeus e criaram o Estado de bem-estar social naquele continente.
Houve uma associação entre intelectuais e sindicatos, que serviu de base para mandatários como Felipe González, 1º ministro da Espanha de 1986 a 1992, e François Mitterrand, presidente francês de 1981 a 1995
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