O PDT aprovou em convenção nacional nesta quarta-feira (20), por aclamação e sem votos contrários, a escolha de Ciro Gomes (CE) como candidato à Presidência da República. A oficialização da candidatura foi realizada na sede nacional da sigla, em Brasília, no primeiro dia do período para realização das convenções partidárias, conforme o calendário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Ex-ministro da Fazenda e ex-governador do Ceará, Ciro vai disputar o Palácio do Planalto pela quarta vez. Embora não tenha chegado ao segundo turno nas últimas três tentativas (1998, 2002 e 2018), registrou o melhor desempenho no último pleito, com pouco mais de 13,3 milhões de votos.
Com 8% das intenções em 2022, de acordo com o último levantamento do instituto Datafolha, e atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), o pedetista quer fazer das eleições um “plebiscito de ideias”. Para isso, ele se apresenta como uma alternativa à polarização e “contra esse sistema”.
A campanha de Ciro vende a candidatura como uma espécie de “vote em um e se livre dos dois”, em referência a Lula e a Bolsonaro. Segundo o agora candidato, os nomes do PT e do PL representam um “vazio de ideias”.
O desejo de tentar furar os primeiros colocados pode ser conferida também na estratégia publicitária, que carrega a assinatura “Prefiro Ciro” e está estampada por toda a sede nacional do PDT, em Brasília.
Propostas
Aos 64 anos, Ciro Gomes apoia a candidatura em um projeto nacional de desenvolvimento, publicado por ele, em 2020, no livro “Projeto Nacional: O Dever da Esperança”, e recicla propostas da campanha derrotada ao Planalto em 2018.
Se eleito, Ciro se compromete, entre outros pontos, a:
revogar o teto de gastos, chamado por ele de “ficção fraudulenta”;
revisar o tripé macroeconômico (meta de inflação, câmbio flutuante e meta fiscal);
rever a autonomia do Banco Central;
criar um plano emergencial de pleno emprego para, segundo ele, “gerar 5 milhões de vagas nos dois primeiros anos de governo”;
revisar a política de preços da Petrobras;
implantar um programa de renda mínima universal;
investir em escolas federais de tempo integral;
criar um complexo industrial da saúde para a produção de medicamentos.
O candidato também defende as reformas tributária e da Previdência. Na última, Ciro repete proposta de 2018 com a adoção do regime de capitalização. Na revisão dos tributos, Ciro vem detalhando em 2022 a proposta que já havia defendido há quatro anos.
O candidato propõe a regulamentação do imposto sobre grandes fortunas, com alíquota seria progressiva para patrimônios acima de R$ 20 milhões; a tributação de lucros e dividendos; a implantação de um caráter progressivo no imposto sobre heranças e doações; e “reduzir o conjunto de impostos sobre a renda a dois impostos gerais, o de pessoa física e o de pessoa jurídica”.
Alianças
Conhecido pelo temperamento explosivo, Ciro tem negado que os discursos e falas inflamadas o afastaram das negociações com outros partidos. Ele tem atribuído o isolamento à defesa do projeto nacional de desenvolvimento e às ideias defendidas por ele.
O afastamento das negociações fez com que o PDT e Ciro Gomes chegassem à convenção desta quarta sem propostas de coligação – aliança entre dois ou mais partidos permitida para as disputas aos cargos de presidente, governador, senador e prefeito – e indicados a candidato a vice-presidente.
Segundo o presidente do partido, Carlos Lupi, os membros do PDT decidiram, nesta quarta, permitir à executiva nacional da sigla a continuidade das negociações com outras legendas e delegar ao mesmo colegiado o poder para decidir sobre eventuais coligações e candidatos a vice.
Lupi defende que é preciso “maturar” a escolha e aguardar até o último dia das convenções partidárias, em 5 de agosto, para avaliar o cenário. Para ele, Ciro Gomes ainda vai crescer nas pesquisas de intenção de voto, o que pode fazer com que outras siglas comecem a “olhar com mais atenção” para o pedetista. O prazo máximo para o registro das candidaturas no TSE é dia 15 de agosto.
Apesar das tentativas, o partido e os coordenadores da campanha de Ciro já se preparam para a hipótese de uma chapa pura, apenas com filiados ao PDT.
Em 2018, o cenário foi parecido para o ex-governador do Ceará. O PDT chegou à convenção sem um nome para vice e sem alianças. O partido, no entanto, conseguiu fechar no penúltimo dia das convenções uma aliança com o Avante. A vice foi revelada um dia depois, no último dia das convenções. A escolhida, porém, foi a senadora Kátia Abreu, à época filiada ao próprio PDT; hoje integrante do PP.
Trajetória política
Advogado e professor universitário, Ciro nasceu em uma família com tradição política no Ceará. Além do PDT, passou por outros seis partidos – PDS, PMDB, PSDB, PPS, PSB e PROS.
Por pressão do pai, então prefeito de Sobral (CE), foi eleito e reeleito, em 1982 e 1986, para mandato de deputado estadual no Ceará pelo extinto PDS. Foi líder do governo Tasso Jereissati na assembleia estadual cearense. A convite do então governador, decidiu disputar a Prefeitura de Fortaleza em 1988 pelo MDB. Foi eleito com pouco mais de 179 mil votos, 30,55%.
Ficou somente 15 meses como prefeito. Deixou a prefeitura para disputar, mais uma vez a convite de Tasso, o governo do Ceará em 1990. Desta vez pelo recém-criado PSDB. Tornou-se o primeiro governador eleito pelo partido. Ciro alcançou 1,2 milhões de votos (54,31% dos votos válidos).
A poucos meses do término do mandato de governador, em setembro de 1994, deixou a chefia do Executivo estadual para assumir o Ministério da Fazenda do então presidente Itamar Franco. A passagem durou quatro meses.
Em entrevistas, Ciro afirmou ter recusado convites para disputar a Prefeitura de Fortaleza em 1996. Ele só voltou às urnas em 1998, quando concorreu, pela primeira vez, à Presidência pelo PPS. Ficou em terceiro lugar, com 10,9% dos votos. Na segunda tentativa, em 2002, repetiu a candidatura pelo PPS. Com 11,9% dos votos, ficou em quarto lugar.
Sem mandato, Ciro foi convidado pelo presidente eleito em 2022, Luiz Inácio Lula da Silva, para assumir o Ministério da Integração Nacional. Ele deixou o cargo em 2006 para disputar uma vaga na Câmara dos Deputados pelo PSB. Foi eleito com o segundo maior número de votos naquele ano.
Em 2010, decidiu não disputar as eleições. Apoio a então candidata Dilma Rousseff (PT) na corrida ao Planalto. Voltou à política somente em 2013, quando a convite do irmão, Cid Gomes, passou a chefiar a Secretaria de Saúde do Ceará.
Após passagem pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em 2018, decidiu, mais uma vez, disputar a Presidência em 2018, agora filiado ao PDT. Conseguiu o melhor desempenho eleitoral, ficando em terceiro com 12,47% dos votos
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