terça-feira, 8 de abril de 2025
As eleições de 2022 em Pernambuco carregam um traço “familiar” nas disputas para o governo e o Senado: a presença de sobrenomes históricos, repassados de geração em geração. São filhos, netos e parentes de ex-gestores ou ex-parlamentares, que mostram a força do DNA na política local.
Quem olha a lista de candidatos ao governo do estado e ao Senado, este ano, focando nos sobrenomes, pode até pensar que pegou o túnel do tempo. Estão lá Arraes, Lyra, Ferreira, Coelho, Krause e Oliveira.
Em cada uma das chapas, a hereditariedade está presente. O tema chamou a atenção no cenário nacional e gerou debate em “O Assunto”, podcast publicado g1, num no bate papo entre a apresentadora Renata Lo Prete e o comentarista político da Globo News, o pernambucano Gerson Camarotti
Líder na primeira pesquisa do Ipec, divulgada na segunda (15), Marília Arraes (Solidariedade) leva para o pleito o nome do avô, o ex-governador Miguel Arraes de Alencar (1916-2005).
Além de carregar o nome Arraes, Marília está em um novo embate familiar. Desta vez, no entanto, não será de forma direta, como em 2022, para a prefeitura do Recife, quando disputou pelo PT e perdeu para o primo em segundo grau João Campos (PSB).
Na chapa, ao lado de Marília, foi escolhido o médico e deputado federal Sebastião Oliveira (Avante). Com base eleitoral em Serra Talhada, no Sertão pernambucano, ele é sobrinho do ex-deputado federal Inocêncio Oliveira, que esteve na Câmara Federal por dez mandatos.
O pai dela, João Lyra Neto, foi prefeito da cidade por dois mandatos e ocupou a vive-governadoria na gestão de Eduardo Campos.
Quando o ex-governador se licenciou para disputar a eleição presidencial, Lyra assumiu o governo até o fim de 2014. Outro político tradicional da família é o ex-ministro da Justiça do governo Sarney Fernando Lyra, que também foi deputado federal.
A vice de Raquel também carrega sobrenome famoso na política. Deputada estadual, Priscila Krause (Cidadania) é filha do ex-governador e ex-ministro Gustavo Krause
A chapa fica completa com um representante do clã dos Coelho, de Petrolina, no Sertão. Ex-deputado federal, Guilherme Coelho (PSDB) é candidato ao Senado. Ele vem de um grupo político repleto de ex-prefeitos e ex-parlamentares.
Nessa chapa, a candidata a vice-governadora é Isabel Urquiza (PL). Ela é filha da ex-prefeita de Olinda Jacilda Urquiza e do ex-deputado estadual Hélio Urquiza.
Para o Senado Federal, o candidato de Anderson é o ex-ministro do Turismo no governo Bolsonaro Gilson Machado Neto. Ele é sobrinho do ex-deputado Gilson Machado Filho, que participou da Assembleia Nacional Constituinte, nos anos 1980.
Além de Marília, Anderson, Raquel e Miguel, e Danilo, Pernambuco tem outros seis candidatos ao governo, em 2022. São eles: Cláudia Ribeiro (PSTU), Jadilson Bombeiro (PMB) , João Arnaldo (PSOL), Jones Manoel (PCB), Wellington Carneiro (PTB) e Ubiracy Olímpio (PCO).
Para o Senado, são mais sete candidatos, além de Gilson e Guilherme. São eles: André de Paula (PSD), Esteves Jacinto (PRTB), Carlos Andrade Lima (União Brasil), Dayse Medeiros (PSTU), Eugênia Lima (PSOL), Roberta Rita (PCO) e Teresa Leitão (PT).
O professor Vanuccio volta até o tempo da colonização do Brasil e das Capitanias Hereditárias - quando terras foram divididas pode decisão do Império - para mostrar a origem do fenômeno.
“Não havia instituições de solidariedade social na época. As pessoas se organizavam no entorno dos senhores de engenho”, observou.
Os núcleos de poder ganharam novos contornos no Império Brasileiro, a partir da Constituição de 1824. Nessa época, para votar e ser votado era preciso ter dinheiro e cumprir outras exigências.
“Novas famílias começaram a entrar na disputa pelo poder a partir da Revolução de 1930”, comentou o professor.
Hoje, segundo Vanuccio, no Brasil há clãs políticos com origem na colônia, como os Andrada, em Minas Gerais.
Em Pernambuco, afirma o professor, a cada eleição fica mais visível que “não é fácil vender se não tiver um sobrenome conhecido”.
“Para ganhar espaço político em Pernambuco tem que ter um sobrenome. É mais fácil com um legado familiar”, declarou.
Vanuccio lembra que até Miguel Arraes, ao sair do Ceará para entrar na política pernambucana, teve uma 'força" da política tradicional familiar.
"Ele se casou com uma irmã da mulher do ex-governado Cid Sampaio, que tinha terras e era de uma família tradicional do estado. Arraes e Cid foram concunhados", afirmou.