Uma semana após o fim do primeiro turno, o embate entre os candidatos à Presidência da República se fortalece entre dois nomes que polarizam o Brasil e que agora estarão frente a frente, disputando o mesmo território: nas ruas, nos debates, nas redes sociais
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) passaram os últimos dias consolidando apoios e correndo atrás de novas adesões. Um quadro difícil, refletido nas pesquisas: na última sexta, o Instituto Datafolha divulgou nova rodada de intenções de votos, que mostrou Lula com 49% da preferência do eleitorado e Bolsonaro com 44%
Os dois presidenciáveis têm um desafio até maior pela frente: reduzir o índice de abstenção que ultrapassou os 20%.
"O número de abstenções, que é exatamente o histórico das eleições presidenciais - com exceção de 2018, que foi maior, e o voto decidido, dificultam cravar uma resposta segura (sobre possíveis rumos deste segundo turno). Tivemos 20% de abstenções e entre 75% e 80% de eleitores decididos dois meses antes do pleito. Isso é inusitado", considera o presidente do Instituto Cultiva em Minas Gerais, o sociólogo Rudá Ricci.
O Tribunal Superior Eleitoral registrou 20,95% de ausentes, o correspondente a 32.770.982 eleitores. Além disso, 1.964.779 de pessoas votaram em branco e mais 3.487.874 anularam o voto
O sociólogo não aposta em mudanças significativas até o fim da campanha. "Eu diria que se concentra basicamente em dois pontos percentuais de indecisos, não mais que isso, e uns dois a quatro pontos percentuais de evangélicos", conjectura, apontando que os evangélicos compõem um bloco homogêneo importante neste pleito. "Pelo menos 30% deles flutuaram entre Bolsonaro e Lula, retornando parte para Bolsonaro, durante o ano", registra.
O resultado do primeiro turno apontou de imediato uma votação concentrada entre os dois candidatos, embora Lula tenha registrado seis milhões de votos a mais que Bolsonaro, e vencido em cinco Estados onde em 2018 o PT havia perdido: Amapá , Amazonas, Tocantins e Minas Gerais (segundo maior colégio eleitoral do Brasil) conquistados por Bolsonaro nas últimas eleições, e o Ceará, único em que Ciro Gomes ganhou há quatro anos.
Lula, que obteve 57.258.115 votos, venceu em 14 unidades da Federação, mas perdeu no maior colégio eleitoral: São Paulo. Bolsonaro, com 51.071.277, predominou em 12 Estados e no Distrito Federal. Tomou conta do Sul e do Centro-Oeste e, mesmo perdendo em Minas, teve maior quantidade de adeptos no Sudeste
Por isso, o apoio da ex-candidata Simone Tebet (MDB) a Lula é considerado tão importante por cientistas políticos. "É um dos apoios com maior impacto eleitoral. A senadora poderá dar votos em áreas onde Lula é fraco, como no Centro-Oeste e no Sul, porque teve boa votação", estima o também professor Adriano Oliveira
Filha do ex-senador Ramez Tebet e senadora por Mato Grosso do Sul, a advogada e professora obteve 411.827 votos no Centro-Oeste; 818.952, no Sul; e no Sudeste, 2.577.548, mais que a diferença entre o petista (21.037.094) e o atual presidente (23.470.529). Lula perdeu para Bolsonaro nessas três regiões. A senadora, que anunciou seu apoio na última quarta (5), seria ainda um reforço simbólico.
Aos olhos do cientista político Arthur Leandro, professor da UFPE, Simone Tebet sinaliza para um eleitorado com perfil liberal. "De um liberalismo mais contemporâneo, que respeita a condição feminina, a pluralidade e a diversidade da sociedade brasileira. É uma candidata que respeita as regras do jogo", acentua, acrescentando sua importância na construção de pontes com parlamentares identificados ao que sobrou da social-democracia.
"Em um eventual terceiro governo, Lula vai enfrentar oposição forte, terá que negociar muito", prevê.
Adesões de amplitude
Durante a semana, o petista arrebatou adesões de amplitude nacional, como a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, dos economistas Pérsio Arida, e Armínio Fraga e do Partido Democrático Trabalhista (PDT), endossado pelo ex-candidato Ciro Gomes. "São figuras que representam a defesa da democracia, uma pauta que está em voga e mexe com parcela do eleitorado", coloca Adriano Oliveira
Para Arthur Leandro, Lula conseguiu a união de figuras políticas dos mais diferentes espectros, enquanto Bolsonaro se juntou ao centrão. "O que não é pouca coisa, do ponto de vista eleitoral e do controle do orçamento. O presidente tem, com isso, muita capacidade de mobilização.
Os votos dos mineiros (5.802.571), o Norte (4.554.630) do país e, sobretudo, a Região Nordeste (21.753.139 votos) asseguraram o êxito de Lula no primeiro turno. Minas é, historicamente, decisivo para as eleições presidenciais. O último presidente a ganhar o pleito sem vencer no Estado foi Getúlio Vargas, em 1950.
Para tentar reverter a desvantagem entre os mineiros, Bolsonaro se reuniu na quinta-feira (6) com empresários da indústria, em Belo Horizonte. Na terça (4), recebeu o apoio oficial do governador Romeu Zema (Novo), reeleito com 6.094.136 votos (56%).
"Esse foi o apoio mais importante que o presidente Bolsonaro conquistou esta semana. Mas como já foi reeleito, Zema terá que transformar o voto Zema e Lula em Zema e Bolsonaro. Se isso ocorrerá, não sabemos", coloca Adriano Oliveira
"Trata-se de uma incógnita. Zema não é um líder de massas, mas construiu um cinturão clientelista com prefeitos", reforça Rudá Ricci. O presidente também conseguiu adesões como as do governador eleito do Rio, Cláudio Castro (PL), e a de Rodrigo Garcia (PSDB), governador de São Paulo, derrotado em sua tentativa de reeleição.
Apesar de estarmos a pouco mais de 20 dias para as eleições, ainda é cedo para previsões mais aprofundadas. "Teremos um segundo turno intenso", diz Adriano Oliveira. O sociólogo Rudá Ricci não acredita em grandes mudanças.
"É muito difícil Bolsonaro superar Lula. Contudo, se ocorrer alguma ofensiva ou fato político, pode conquistar a pequena margem de indecisos e embaralhar o jogo", estima
Por Betania Santana/Folha PE
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